Afagro entrevista o secretário da Agricultura, Covatti Filho

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Foto: Evandro Oliveira/Divulgação

A Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro) entrevistou o secretário de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Luis Antonio Franciscatto Covatti. Entre os questionamentos feitos ao deputado federal, estão temas polêmicos como os problemas decorrentes da deriva do 2,4-D no Estado e a desvalorização dos servidores públicos. O titular da pasta também falou sobre a importância dos fiscais para a produção agropecuária. 

Confira, abaixo, a entrevista com o secretário Covatti Filho.

Covatti Filho [Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados]
Deputado federal Covatti Filho, atual secretário da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado [Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados]
Na sua opinião, qual é a importância do setor agropecuário para o Rio Grande do Sul?

O Rio Grande do Sul tem vocação e tradição agropecuária, setor que é o pilar de sustentação de nossa economia, respondendo por cerca de 40% do PIB. Temos uma história de inovação e evolução constante, o que nos deixa orgulhosos. Sua importância socioeconômica é enorme, pela geração de riquezas e promoção do desenvolvimento regional. O Estado é reconhecido nacionalmente pela oferta de diversos produtos agrícolas e está entre os principais exportadores. Em torno de 90% dos estabelecimentos agropecuários gaúchos se enquadram- se nos critérios da agricultura familiar, conforme o Censo Agropecuário do IBGE. Este segmento responde por parcela expressiva dos empregos no campo do valor da produção. Outro aspecto importante a destacar é a cultura cooperativista, com organizações sólidas e organizadas, promovendo o crescimento de suas comunidades e dando exemplos a serem seguidos.

Quais são as suas três prioridades neste período à frente da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural?

Teremos de 1º a 31 de maio a campanha de vacinação contra a febre aftosa no Rio Grande do Sul, com estimativa de imunizar todos os bovinos e búfalos, totalizando cerca de 12,5 milhões de animais. A estimativa é de que 300 mil propriedades sejam envolvidas e atingir cobertura vacinal superior a 90%. Essa é uma de nossas prioridades, e nosso corpo técnico está trabalhando seriamente para garantir o sucesso da campanha. Outro aspecto que merece nossa total atenção é a modernização da administração da gestão, para reduzir custos e melhorar a prestação dos serviços públicos. Desde o começo do ano, já aumentamos em 10 vezes da velocidade de dados nas inspetorias veterinárias, começamos um projeto piloto para instalar centrais de autoatendimento ao produtor, reduzimos da frota de veículos e implementamos melhorias no sistema Produtor On Line. É uma necessidade urgente de modernizar os processos e a estrutura, e estamos trabalhando forte para isso. Estas, entre outras ações, são prioridades. E temos também o compromisso de manter o diálogo permanente e franco com todas as entidades representativas do setor produtivo e de nossos servidores públicos.

Sobre o possível avanço do status sanitário para a febre aftosa, quais são as oportunidades que o senhor vislumbra?

Entendemos que há uma série de benefícios e oportunidades. Reconhecidamente referência em produção de carne de qualidade e fornecedor de reprodutores e material genético, o Estado livre de febre aftosa sem vacinação não só manterá os acordos comerciais já estabelecidos como vai facilitar o acesso a novos mercados e possibilitar o retorno dos Estados Unidos à importação de carnes in natura do Brasil. A retirada da vacinação complementa o importante trabalho na busca pela excelência na produção pecuária do Rio Grande do Sul.

Qual é o caminho que o senhor vê para resolver o impasse no que diz respeito às recentes polêmicas sobre o uso do 2,4-D?

Este é uma das grandes questões da agricultura gaúcha na atualidade, colocando em lados [opostos] diferentes segmentos. Dentro do grupo de trabalho criado pelo governo do Estado para tratar das questões e promover ações relativas à utilização do herbicida à base de 2,4-D, a Secretaria da Agricultura apresentou uma série de propostas técnicas elaboradas pelo Departamento de Defesa Agropecuária (DDA) para as cadeias produtivas que sofreram prejuízos em decorrência da deriva. Este trabalho foi feito pelo nosso corpo técnico e foi bem recebido pelos atores envolvidos no GT, o que demonstra a capacidade dos profissionais que compõem o DDA. Por outro lado, há segmentos que sofreram prejuízos decorrentes da deriva que querem a suspensão do herbicida. Portanto, temos um dilema que exigirá muito diálogo para encontrarmos a melhor solução. Entendo que a fiscalização agropecuária tem papel importantíssimo no processo todo, até porque os problemas causados pela deriva do 2,4-D tiveram como origem a má aplicação do produto. Ainda dentro do GT, deliberamos pela criação de subgrupos para detalhar tecnicamente algumas propostas, e novamente nossos fiscais agropecuários poderão contribuir com seu conhecimento e experiência para aperfeiçoarmos todo o sistema.

Como o senhor vê o papel da fiscalização agropecuária no que diz respeito à garantia de segurança e qualidade dos produtos de origem animal e vegetal?

Nossos fiscais são os guardiões da qualidade e da sanidade de nossa produção agropecuária. Embora em alguns momentos a fiscalização possa não ser bem recebida por algum produtor, temos a obrigação legal de fazê-la, pois é obrigação do Estado, para garantir a segurança de lavouras e rebanhos.

Como o senhor vê a possibilidade da criação de um quadro da fiscalização agropecuária com valorização profissional conforme o ocorrido no Ministério da Agricultura?

Nós apoiamos a valorização de nossos profissionais da fiscalização agropecuária. Infelizmente, temos um quadro financeiro gravíssimo nas finanças do Estado que nos impede de avançar, no curto prazo, para a criação de um quadro em separado às categorias dos técnicos científicos e do técnicos de nível médio. Mas é um tema que será constantemente avaliado pelo governo.

Diante da constante perda de talentos em função da desvalorização do servidor público do executivo, como o senhor avalia o enfrentamento dessa situação, visto que nos últimos anos diversos colegas abandonaram a atividade pública no RS para desempenhar outras atribuições em outras esferas e setor privado?

É uma situação bastante complexa, que causa preocupações em todo o governo, pois a defasagem salarial acaba, de fato, tornando menos atrativa a carreira no Executivo. Por consequência, os serviços podem vir a perder qualidade. A secretária de Planejamento do Estado, Leany Lemos, está liderando estudos neste sentido, para analisar todos os detalhes do quadro funcional do Estado para então propor alterações. Sabemos que o Estado perde por não poder remunerar melhor seus servidores. Temos de trabalhar para promover o desenvolvimento, motivar investimentos e aumentar a arrecadação do Estado. 

O senhor vê a possibilidade de abertura de um novo concurso, já que em breve teremos aposentadoria de dezenas de colegas?

Este tema deve ser discutido com outras esferas do governo. O governo ainda está em um período de ajustes da gestão, e a realização de concurso está no radar da equipe técnica e virá a ser discutida no momento oportuno.

Qual o legado o senhor gostaria de deixar para a agricultura e para a pecuária do Rio Grande do Sul?

Estou trabalhando para modernizar a gestão, tradicionalmente engessada pela burocracia do Estado. Precisamos ter mais agilidade para resolver problemas e devemos oferecer serviços mais eficientes e eficazes ao cidadão. Este é um trabalho que deveria ser contínuo e que está recebendo os esforços de nossa equipe. Já implementamos ações que nos deram agilidade com economia de recursos. Como legado, quero ao final da gestão deixar uma secretaria mais moderna e valorizada, que caminha ao lado dos produtores rurais, apoiando-os em suas dificuldades e criando possibilidades de evolução.

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