Os jovens que praticam agroecologia são os bombeiros agroecológicos, diz Sebastião Pinheiro
Os impactos da agricultura convencional, que acarreta no consumo de alimentos com resíduos de agrotóxicos, foram abordados na tarde desta segunda-feira (26/8) em debate com o professor Sebastião Pinheiro na Expointer. Com a proposta de repensar o modo atual de produzir, Pinheiro apresentou palestra sobre Agroecologia e Sustentabilidade no auditório da Federacite, no parque Assis Brasil. Mais de 80 pessoas participaram do evento, que contou com a presença de representantes da Emater, da Fetag, do Irga e do Ministério da Agricultura, entre outros.
As culturas predominantes também foram debatidas durante o encontro. “Hoje, nós temos uma desterritorialização que nos leva à fome. E essa desterritorialização faz com que a nossa agricultura fique nas mãos de quatro grandes empresas, e eles não produzem alimentos, produzem commodities”, afirmou Pinheiro, acrescentando que as lavouras atualmente estão reduzidas a soja, milho, trigo e mais duas ou três culturas. “Perdemos a noção do que era vida, do que era solo, do que era agricultura. Então, temos que começar a recuperar algumas coisas antes de fazer agroecologia”, refletiu Pinheiro.
Sobre o caminho a ser percorrido para a agroecologia avançar, Sebastião Pinheiro explica por meio de uma metáfora: “Nós estamos apagando incêndios construídos pela agricultura industrial moderna. Hoje, nós estamos vendo os jovens fazendo agroecologia apagando incêndios. O bombeiro agroecológico é aquele ser que está remediando situações e simultaneamente construindo uma nova realidade a partir dos remendos que ele faz”, definiu. E acrescentou: “Nós não devemos esperar nada de ninguém. Nós vamos ter que voltar a entender que a coisa mais importante não é o indivíduo, é a comunidade em que ele está integrado”, disse. Para o estudioso, as melhores ferramentas para isso são a ciência, a pesquisa, o ensino e o exercício profissional.
Agricultura alternativa e alimentos orgânicos
O auditor fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura (Mapa), José Cleber de Souza, fez um apanhado histórico sobre o surgimento da agricultura alternativa no mundo, no Brasil e no Estado. “O Rio Grande do Sul é onde essa política de agroecologia mais avançou”, disse o agrônomo. Responsável pelo Programa Pró-Orgânico e secretário-executivo da Comissão da Produção Orgânica do Estado, Souza destacou que a região Sul do Brasil é a que tem o maior número de produtores orgânicos. Entretanto, ressaltou, atualmente as políticas públicas voltadas a estas iniciativas estão em compasso de indefinição.
“É importante trazer este debate para dentro de um evento como a Expointer. Já foi assim, um tempo atrás, quando a agricultura familiar ainda não participava da feira”, lembra Antonio Augusto Medeiros, presidente da Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (Afagro), uma das entidades promotoras do debate. A ideia é proporcionar uma reflexão sobre a agroecologia e a produção de orgânicos como alternativas. O debate foi mediado pelo veterinário Danilo Krause.
O debate foi organizado pelo Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Rio Grande do Sul – Sintergs com o apoio da Afagro, da Assagra – Associação dos Servidores de Ciência Agrárias RS, da Agefa – Associação dos Agentes de Fiscalização Agropecuária do Estado do Rio Grande do Sul e da Assep – Associação dos Servidores da Pesquisa Agropecuária.
Fotos: Bruna Karpinski