Eduardo Vergara: um olhar questionador sobre os processos

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#AfagroEmAcao ~ Especial | Série de entrevistas

Metódico, questionador, persistente e organizado. Estas são algumas das características que podem ser atribuídas ao fiscal estadual agropecuário Eduardo Nemoto Vergara, da Seção de Gestão dos Processos e da Informação Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr). Administrador do Sistema de Defesa Agropecuária (SDA), o servidor foi peça-chave para implantação do software que informatizou os processos na última década.

A sistematização das informações em um banco de dados permitiu inúmeros avanços, entre eles o embasamento necessário para a evolução do status sanitário do Estado para livre de febre aftosa sem vacinação, por exemplo. “A viabilização do armazenamento dos registros e consequente produção de informações sanitárias auditáveis contribuíram para estarmos concorrendo a obtenção de um novo status sanitário”, pontua Vergara. O processo de auditoria pelo qual passou o serviço veterinário estadual avaliou, também, o SDA.

Trajetória de inquietação

Especialista em Gestão de Pessoas, formou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) em 1991. Começou a vida profissional trabalhando no Exército, atividade na qual permaneceu durante quase sete anos. Vergara ingressou no Estado em abril de 1997. Começou na inspetoria de Charqueadas, onde ficou até 1999. Na primeira hora da manhã, fazia inspeção em um frigorífico de abate de bovinos no município vizinho, São Jerônimo, e à tarde retornava para o escritório.

Desta época, Vergara traz consigo a inquietude, além de algumas recordações em relação às rotinas de trabalho no final da década de 90. “Tinha que abrir um armário de aço, tirar uma ficha e anotar com a caneta vermelha o débito”, lembra o veterinário. Atento à tecnologia que já estava disponível por meio dos computadores, também não lhe agradava o uso as calculadora para encontrar os valores para as cobranças das taxas de abate, por exemplo. Vergara conta que já usava planilhas do Excel para organizar as informações e facilitar o trabalho. “E essa intenção permaneceu. Eu já tinha essa visão da necessidade de mapear o processo”, pontua.

De 1999 a 2000, atuou na inspetoria de Butiá. Nos anos seguintes, entre 2000 e 2001, já em Viamão, voltou a se dividir entre a inspeção em um frigorífico de bovinos e a inspetoria do município. Natural de Porto Alegre, desde que foi nomeado servidor da Seapdr, mesmo tendo atuado no Interior, Vergara sempre residiu na Capital.

Em 2001, foi transferido para o setor de Fiscalização da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) na central, em Porto Alegre. De 2002 a 2005, assumiu a coordenação do Serviço de Inspeção Sanitária. Depois, foi para o setor de Fiscalização da antiga Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal, onde começou a trabalhar no desenvolvimento e na implantação do SDA. Em 2014, assumiu a chefia da Divisão de Controle e Informações Sanitárias e, posteriormente, passou a atuar junto a Seção de Gestão dos Processos e da Informação Agropecuária.

O desafio de romper com a resistência

Já era a terceira tentativa de modernizar a gestão dos dados. “Foi um desafio bem grande, pois envolve a questão cultural. Claro, hoje nós temos uma geração que é bem mais digitalizada. Mas o público interno, na época, não acreditava muito”, lembra. Entre os motivos, Vergara menciona duas situações. Primeiro, a falta de familiaridade com a tecnologia e, segundo, a resistência no que diz respeito ao compartilhamento dos dados. “Até então, o responsável pelas unidades era o detentor das informações”, pontua.

“Era necessário entender que nós somos responsáveis pela credibilidade do dado, mas não pela detenção da informação. Estes dados são de interesse de toda a sociedade”, ressalta Vergara. Hoje, todos os servidores têm condições de verificar informações, que passaram a ser comum a todos. O veterinário ressalta a importância de prestar contas para a sociedade e também de apresentar os resultados das atividades que são executadas em campo pela fiscalização agropecuária.

O trabalho foi de formiguinha e iniciou de uma forma que é quase inacreditável, mesmo que tenha passado tão pouco tempo – apenas dez anos – desde o início do processo. “O pessoal digitava no Interior e enviada (os dados) por disquete”, relembra Vergara. Nesta etapa, havia muito problema de duplicação das informações. Entre 2010 e 2012, a emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA) passou a ser feita somente de forma eletrônica, transição que estimulou a adesão ao sistema.

Mas o “grande alavancador” foi o ingresso de novas pessoas nos dois últimos concursos, cujas nomeações ocorreram em 2006 e 2014 e, segundo Vergara, trouxeram uma “renovação de sangue”.

A consolidação do SDA

Após muitas idas ao Interior para ministrar treinamentos, a consolidação do projeto ocorreu em 2011/2012, quando todas as inspetorias do Estado já estavam dentro do SDA. “Faltava alguém que assumisse, e daí chegamos onde estamos hoje. É um caminho sem volta”, simplifica Vergara, revelando que ao longo do caminho não agradou a todos.

Atualmente, toda a base de dados é enviada diariamente para o Ministério da Agricultura, em Brasília, para alimentar a Plataforma de Gestão Agropecuária. Considerando novos cadastros e alterações, o SDA movimenta, em média, 50 mil registros diariamente. Com a mudança, conta o veterinário, começaram a chegar muitos pedidos de informações, incluindo demandas judiciais, e também para movimentação de animais.

Para Vergara, o desenvolvimento e a implantação do SDA foi um marco importante no processo de modernização das atividades dos servidores, já que disponibilizou uma ferramenta de apoio na gestão dos processos da defesa agropecuária e na inspeção sanitária. “O mapeamento dos principais processos de trabalho envolvidos nas atividades da defesa agropecuária permitiu um uso mais efetivo das informações geradas”, avalia, acrescentando que os dados servem de base de informações aos gestores da secretaria, na aplicação de esforços e recursos públicos, por exemplo.

A tecnologia que modernizou o fluxo de informações agropecuárias também teve papel importante na conquista de novos mercados para exportação, bem como na manutenção dos já alcançados. “A obtenção destes mercados necessita de uma base de informações sólidas e garantias sanitárias alicerçadas nos registros oficiais realizadas através do SDA”, explica Vergara, reforçando que o sistema disponibiliza uma gama muito grande de dados que são confiáveis e que auxiliam nas tomadas de decisão dos gestores dos programas sanitários da Pasta.

A gestão de eventos agropecuários importantes, como a Expointer, é feita por meio do sistema. Todas as informações referentes à movimentação, avaliações e julgamentos de animais são lançadas no SDA. O desafio é seguir avançando no desenvolvimento do sistema, que foi desenvolvido pela Procergs, para fazer atualizações constantemente. As mudanças que ocorrem na legislação e, consequentemente, alteram a classificação ou nomenclatura de estabelecimentos são um exemplo. Atualmente, há 250 demandas de melhoria ou novas atividades na lista de espera para serem incorporadas ao sistema.

Aposentadoria “próxima”

Aos 55 anos, Vergara é um acervo humano no que diz respeito ao SDA. Olhando para trás, fala com satisfação da missão que recebeu e cumpriu. “As coisas andam pelo empenho individual das pessoas e a colaboração de colegas que partilham os mesmos objetivos”, avalia. Entretanto, em algum momento o fiscal estadual agropecuário precisará olhar pra frente e deixar o seu legado para novos sucessores.

Somando 22 anos de secretaria, o veterinário está próximo de se aposentar. Ele conta que, até pouco tempo atrás, faltavam só cinco anos para a aposentadoria, mas que agora, com as reformas, faltam dez. Ter que trabalhar por mais tempo não estava nos planos, mas pode ter algum aspecto positivo, sobretudo para quem gosta do que faz.

“Um dos problemas de ficar velho no serviço público é que tu vira arquivo, e isso nem sempre é desejável”, brinca Vergara, que demonstra sensação de dever cumprido em duas décadas de serviço público, sentimento que divide espaço com a alegria de permanecer um pouco mais aprimorando a ferramenta que ajudou a construir.

 

Entrevista e reportagem: Bruna Karpinski, jornalista Afagro
Foto: Fernando Dias/Seapdr

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